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POR QUE A NATALIDADE DE JESUS É TÃO IMPORTANTE PARA A HUMANIDADE?
[Derval Dasilio]
Pouco a pouco as ruas vão se enchendo de multidões. Porém, quem está seguro de que as ilusões não ofuscarão o essencial, a injustiça que o cotidiano obscuro e opaco teima em fazer prevalecer? Tantas luzes escondem realidades que não se quer ver. A massificação sobrepuja as coisas comuns do dia-a-dia, o hipnotismo de tantas luzes ofusca ainda mais a verdade, que, aliás, já se esconde o ano inteiro. A conclusão com a qual compartilhamos é que esse tempo bem poderia ser utilizado para se parar um pouco, ao invés da correria do fim do ano e das festas. Parar e refletir sobre a razão que fez com que Deus se fizesse minininho, como um mulequinho pobre e retirante do nordeste, daqueles descritos por Ariano Suassuna.

Antes de tudo, como um mulequinho de cabeça chata, nascido no Agreste, “tali e quali” um cachopo, curumi, catraio, pequerrucho, miúdo, guri, do resto Brasil pobre e subdesenvolvido, que vinha para que nos regalássemos com a esperança da eternidade da justiça, da liberdade, plenitudes em direitos cidadãos, e igualdade social. Vida abundante. Apesar das adversidades, das crises políticas que encobrem os interesses das riquezas da corrupção; dos ajustes econômicos que aumentam a fortuna dos ricos e dos bancos; das crises que aprofundam as desigualdades, ajudadas pela equidistância religiosa insistentemente ensinada dos púlpitos religiosos, que apoia o autoritarismo e golpes na democracia.

Tenho profunda irritação com o Natal do calendário pagão, e suas mensagens sobre um menino que nada tem com a criança heróica, nascida para o holocausto e o martírio, para que o mundo entendesse a lógica de um dinamismo próprio para a transformação possível dos conceitos de liberdade e justiça. Na busca de aprofundamento da compaixão, da solidariedade, da ternura e da gratuidade, essência daquele minininho gerado em uma vila obscura, chamada Nazaré, tão esquecida como uma cidadezinha inexpressiva do Nordeste brasileiro.

Em Jesus se resgatam as utopias, os grandes valores da vida dos povos, das terras, do universo inteiro. Um mundo que geme sob a dor da opressão (Lc 4,16ss). Aos cegos, enfermos, cativos, aprisionados e escravos das ideologias totalitárias, de privilégios, estampam-se os valores da solidariedade, da cooperação, da partilha igualitária, da misericórdia, da compaixão e do cuidado.

Herança dos pais abraâmicos e proféticos, segundo as Escrituras mais antigas, muito depois do grande salto pré-histórico da animalidade comum para a humanização no ambiente onde o homem construiu sua casa (Gen 1 e 2). Essa casa seria acolhedora, abrigo para os que têm fome, os humilhados quando reclamam dignidade, os oprimidos que fogem da exploração ou do bloqueio, impedidos de acesso igualitário aos bens do desenvolvimento. Os que são excluídos dos postos de trabalho que poderiam dar sustento à vida; que moram em condições insalubres, que passam fome, sobrevivem sem hospitais e cuidados essenciais para a vida com dignidade.

No menino que nasceu na pobre vila de Belém há uma promessa divina: um novo céu e uma nova terra, um mundo novo possível. A oração que devemos repetir, neste natal, portanto, deveria ser essa: “Senhor, cremos que no menino nascido fazem-se novas todas as coisas. E, tudo faremos para que essa novidade chegue a todos os homens e mulheres deste mundo. Principalmente os envolvidos e subjugados pela opressão”.
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